sábado, 14 de novembro de 2009

REALMENTE O HOMEM É UM SER FANTÁSTICO

REALMENTE O HOMEM É UM SER FANTÁSTICO
Pilar Casagrande

Quando decide mudar algo e colocar a boca no trombone, não há o que o impeça. Tv, rádios, jornais, revistas, Internet, tudo e todas as formas para gritar que o mundo havia mudado, que o amor e a paz tomariam conta de toda nossa história e que essa maravilha de mundo encantado, reino prometido já estava por acontecer, já, agora, nesse primeiro de janeiro mesmo de um ano.

Acordei super animada para ver e sentir o novo mundo de paz e amor que bocas conhecidas ou não, anunciaram por todos os veículos de comunicação. Engoli rapidamente um gole de café e já saí pelas ruas. Precisava sentir o novo mundo que tantas e tantas pessoas haviam me prometido que começaria agora nesse novo ano qualquer.

Lembrando-me de cada palavra, de cada desejo lido e sentido no decorrer de um mês inteirinho de um dezembro, mal podia esperar para ver como e com quais novas cores estava tingido o mundo agora.

Tudo estava realmente muito bonito, embora as ruas ainda dormissem, acho que pelo motivo de ter estado acordada até muito tarde. Mesmo assim encontrei um grupo de pessoas e vi que estavam se abraçando. Afastei-me pensativa achando que só aquele pequeno grupo de pessoas havia entendido as mensagens recebidas naquele dezembro avisando que brigas não correspondiam ao forte desejo da paz entoado por toda a humanidade.

Continuei meus passos ainda na esperança do reconhecimento do novo mundo que com certeza havia nascido em janeiro. Busquei pela paz e pelo amor e encontrei outro grupo de pessoas. Essas estavam sentadas na rua distribuindo pão e presentes entre oito crianças desnutridas e mal vestidas. Notoriamente aquelas pessoas estavam no contexto do mundo inteiro quando os gritos de solidariedade ecoaram nos céus pintando nuvens de esperanças e vida e onde a solidariedade tomou conta de toda raça humana.

As pessoas se mobilizaram por tanto tempo em prol de algo que jamais aconteceria. Decididamente não! Ninguém perdeu tempo e palavras em algo que não tivesse fundamento, em algo vazio. Eu acredito no ser humano!

Acredito no poder de renovação da raça humana. Está aí, isso me deu forças e ânimo para continuar o novo ano que foi tão prometido, afinal, sentia ainda em mim a força das palavras e do tal espírito natalino.



Quando vi já estava na frente de uma banca de jornal. Parei e olhei as notícias num dos principais jornais da cidade. Algo devia estar errado, ou aquele não era, não podia ser o jornal daquele primeiro dia de janeiro. Não! Ali eu lia todas as desgraças e catástrofes que habitualmente se lê em um jornal. Mortes, assaltos, aumento de preços, desempregos, guerras... Já não estava entendendo mais nada. O mundo não poderia viver tamanha mentira... Não! E os sonhos? E a esperança? E o amor vestido de paz? E todas as palavras e abraços demonstrando amor e solidariedade na noite anterior, naquele mês inteirinho que vivemos? Enquanto buscava respostas para tudo aquilo que via e pelo que procurava sem achar, pararam dois carros no meio da rua ao meu lado onde duas mulheres quase desceram para se pegar em tapas. Discutiam, gritavam, xingavam-se... Olhei para elas e pensei nos abraços e votos, nos cartões, nas mensagens enviadas no decorrer de todo dezembro e me perguntei onde estavam minhas respostas...

Naquela manhã aquelas mulheres brigavam por uma vaga de estacionamento; os jornais noticiavam as desgraças de sempre; uma família dividia um pão velho; um grupo de jovens brigava trocando socos e pontapés...

Voltei para casa e, cheguei à conclusão de que tudo continuava como antes, o mundo não havia mudado em nada, talvez aquele fosse apenas o primeiro dia de janeiro e as mudanças que eu esperava encontrar, talvez ainda estivessem perdidas nos sonhos e ilusões de um tempo futuro...

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