sábado, 14 de novembro de 2009

OS HERÓIS DE HOJE SÃO OS DAS COMPETIÇÕES ESPORTIVAS

OS HERÓIS DE HOJE SÃO OS DAS COMPETIÇÕES ESPORTIVAS

Pilar Casagrande

Um sentimento pode caracterizar uma época e decidir também os destinos de um povo, de uma década ou de uma geração.

Roma foi a maior força política e militar da Antigüidade. Submeteu o mundo todo ao poder invencível de suas armas. Ditou leis ao universo. Encheu-se de todas as glorias do passado, e acumulou, em seus erários, a riqueza de todos os povos vencidos.

Outros impérios, depois se formaram, mas nenhum deles resistiu à ação demolidora do tempo que apaga memórias, como a irresistível nomeada do império dos Césares, pela mística de sua grandeza e magnificência imperecível.

Bastou, porém, o espírito emoliente do prazer, o demônio do gozo, se apoderasse de seu povo para derribar por terra todo o colosso, formado sobre os escombros de mil batalhas e as glórias de mil triunfos.

Roma foi condenada ao esfacelamento. O luxo, o prazer, os jogos espetaculares e toda a sorte de diversões ao langor de uma vida ociosa e dissoluta, contaram-lhe os dias e apressaram-lhe as mortes. “Panem et circenses”, pão e divertimentos era seu lema.

Nenhuma outra coisa aspirava o rei da nação soberana do mundo. Quando o espírito se corrói, pelos excessos da intemperança e pelos delíquios das paixões, também a fibra nobre e austera da raça se estiola. É o fim de um povo e de uma nação.

Hoje, estamos no século vinte e um e nos enveredamos pelo mesmo caminho, ladeira abaixo, da decadência política e social. Também, como nos tempos da velha Roma imperial, o povo grita: Panem et circenses. Quer pão e divertimentos e nada mais. É o sinal de que chegamos ao fim de nossa brilhante civilização.

Em verdade, ela se erguera sobre o fundamento frágil, em campo de areia e a fúria dos ventos das convulsões e das dissoluções sacodem-na. Ela se aluirá e atirarão por terra o colosso ciclópico das conquistas liberais.

Onde estão as virtudes, as fortalezas para lhe sustentarem a derrocada? Onde está o patriotismo dos Cipiões do século moderno?

Os heróis de hoje são os das competições esportivas, que absorvem o tesouro das energias...

Os valores não mais se medem pelo poder do espírito e da cultura, nem pelo quilate precioso dos corações temperados na forja candente das virtudes. Valores morais, culturais e espirituais já não despertam atenção!

O poder dos músculos e a destreza dos membros é que ocupam os placares da publicidade. As massas se precipitam para os anfiteatros e depois se avolumam em meetings de reivindicações econômicas e sociais. Assim era também, em Roma, na fase final do seu império agonizante.

A época, pois, é característica. Os erros se repetem e a humanidade não aprende as lições do passado. Mestra infalível é a história. Entretanto, o povo gosta de ser enganado.

O povo facilmente se deixa enganar, e, há mesmo nele, uma quase tendência natural para isso, pois, as mistificações e os erros empolgam-no de tal forma que aceitam como real o que é inteiramente falso. Daí, o triunfo impressionante das doutrinas que aberram da razão e das imposições irredutíveis do bom senso e da verdade. Acresce ainda que o raciocínio não é usado pelo povo mais humilde, falho de instrução. Poucos se dão ao trabalho de espírito de investigar e de indagar da veracidade do que não conhecem.

O que deslumbra aos olhos tem força de convicção e se atiram alucinados, como borboletas contra a luz, ainda que o fogo lhes chamusque as asas da compostura e da decência humana.

Aceita-se tudo hoje, até os mais extravagantes absurdos e as mais vergonhosas afirmações. Quem não anda mais bem regulado, na tessitura de seus nervos e na tumultuada excitação psíquica de suas faculdades mentais, não raro enxerga oásis de frescura em desertos de areias.

É o fruto da ignorância que, na maior parte das vezes, é culpável porque agrada às paixões e satisfaz ao erotismo do coração. Nos meios incultos e atrasados, os erros produzem prodígios de tolices e de fanatismos religiosos. Por isso, o número de tolos atinge ao infinito!

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