segunda-feira, 2 de novembro de 2009

DIZER QUE O TEMPO ME AFOGA JÁ NÃO É NOVIDADE

DIZER QUE O TEMPO ME AFOGA JÁ NÃO É NOVIDADE

Pilar Casagrande

Dizer que já não há o que me dobra; não parece verdade, pois eis-me aqui absolutamente tomada pela escassez de tempo, tentando escorrer algumas linhas que dão conta de que eu existo, e que mesmo aprisionada dentro dessa trama de horas e minutos, faço-me presente para ti em algum ponto onde queira me encontrar.

Independente do meu esforço, os dias entram e saem no meu calendário como se fossem fechas que zunem interminavelmente, só lhes ouço o barulho.

Não posso agarrar as horas e nem posso me agarrar ao tempo. Um a um como numa corrida desigual os dias fogem apressados, levando consigo minhas vontades e o que sobra desse desacordo entre mim e meus anseios é só frustração de não conseguir acompanhar os ligeiros passos do tempo.

Em que lugar da minha infância, ficou o tempo das horas espaçadas, do tique-taque lento.

Hoje sem cantigas e com os olhos pregados na tela que constrói meu futuro, gasto o pouco do tempo que tenho olhando em todas as direções, sabendo ou não o que vou eternizar tendo ou não algo a guardar.

Quando o dia pede passagem e abre fendas na agenda do meu tempo, ponho-me em vigilância e num piscar de olhos ele se vai, sem que ao menos eu tenha sentido o seu perfume.

Deito meus olhos na noite, vencida pelo cansaço dessa louca corrida, onde sempre sou carta descartada para uma nova etapa. Assim é a vida, hoje eu, amanhã quem será? O tempo elege cada um para seu próprio deleite...

Guardo em mim os tempo sem horas, quero a vida pronta como me chega por tuas mãos preciosas e deixo que o tempo faça de mim, senhora das tuas horas pelo tempo que nos achar merecedores. São tuas as horas que tenho como refrigério no meu tempo escasso, e minhas são as tuas nessa troca sem marcar nos ponteiros.

É o poder inexorável do tempo, senhor absoluto a nos enjaular nos compassos que ele próprio traça para as melodias que compomos, a enriquecer ou empobrecer as rimas que buscamos e não encontramos, a limitar o volume das lágrimas teimosas dos nossos prantos e o sorriso que tentar esboçar-se nas curtas passagens de alegria.

A bloquear os poucos momentos em que a paz nos procura para um afago, também responsável pela projeção de tantas ansiedades em segundos infinitos dos nossos minutos; onde a dor é transformada em tempestade, o hoje em eterno, o passado acenando-nos, de costas, como se pedisse um desligamento e o futuro emperrado como se os ponteiros das horas se recusassem a andar.

É o poder arbitrário desse rei destronado que persiste nas oportunidades de se fazer atuante, como se ao redor dele nada houvesse de significâncias. Cego e surdo, agindo com a precisão de um mestre, nos encurrala nas artérias do nosso próprio espaço, negando-nos sempre a previsão de tempestividade.

O "quando" é a incógnita que confere a esse senhor o poder de determinar o tamanho do rombo, as conseqüências dos fatos, a angústia dos erros, a abrangência dos louros, o valor das decisões, a eficácia das palavras.

O tempo, sempre o tempo, a nos dispor e indispor. Arma de dois gumes que só se presta aos seus próprios propósitos fazendo das pessoas, um joguete que ainda sorri. Confiante!

Entretanto, algumas pessoas maduras sabem que ainda assim vale a pena sonhar, e sonham conscientemente! Amam de novo, de novo e de novo! Caem e se levantam e recomeçam cada vez que caem.

Elas acreditam sempre que na próxima vez vai ser diferente. Prendem os sonhos nas mãos e não largam!

Geralmente essas pessoas vivem mais tempo e o tempo em que vivem é bem melhor aproveitado.

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