sábado, 14 de novembro de 2009

A PAIXÃO NÃO SOBREVIVE DIANTE DAS PRIMEIRAS FRUSTRAÇÕES

A PAIXÃO NÃO SOBREVIVE DIANTE DAS PRIMEIRAS FRUSTRAÇÕES

Pilar Casagrande

Quem pensa que os acessos de paixonite estavam reservados somente para as mocinhas da renascença e às páginas dos grandes romances, errou!

As histórias proliferam-se nos dias de hoje e estão aí para mostrar do que o ser humano é capaz quando está com a "química alterada". Parece que quando o coração fala mais alto, qualquer razão desaparece. Mas a paixão não é um sentimento restrito ao coração: as maiores revoluções acontecem mesmo em nossos cérebros.

Você passa o dia inteiro sorrindo à toa, com o olhar perdido. Sua conta bancária pode estar no vermelho, e lá fora estar caindo o maior toró, que seu humor não muda. Só de pensar na pessoa amada, já dá um frio na espinha, uma sensação de aconchego. Mas, não confunda esse sentimento de que o mundo pode entrar em guerra e você nem se abala, não é amor. Se sua cabeça está nas nuvens e você conta as horas para estar com a pessoa amada, você foi fisgada pela paixão.

A paixão desmedida não é apenas um sentimento intenso pelo outro, ativada por inúmeros mecanismos cerebrais, ela é responsável por excessos, euforia e até crimes.

Em meio a reações químicas, algumas substâncias são as responsáveis por uma série de sensações arrebatadoras, que nos deixam, literalmente, ardendo de paixão.

Tudo começa com a visão, a mais importante fonte de estimulação sexual. A forma de mover-se, um olhar, um gesto ou até mesmo a forma de vestir-se são estímulos mais fortes do que a contemplação pura e simples de um corpo nu.

O amor literalmente entra pelos olhos. E se o flerte começa com uma troca de olhares, por trás dele vão se desenrolando uma série de atividades cerebrais.

A primeira avaliação, através do olhar, ativa o neocórtex, especializado em selecionar e avaliar. Após a análise biológica, para termos certeza de que o outro é uma pessoa geneticamente saudável, partimos para a análise baseada em nossas experiências pessoais, e aí entram nossas preferências, e depois para a análise cultural, que é ditada pela sociedade e pelos padrões de beleza de nosso tempo. Se na renascença as gordinhas faziam sucesso com suas curvas, isso se deve à imagem de saúde e fortaleza que elas transmitiam, em uma época pontuada por escassez de alimentos e pragas.

Além da visão, o olfato é outro sentido fundamental neste processo. A paixão precisa de química, e o cheiro nessas horas é importantíssimo. Pode até não ser ruim, mas só de chegar perto você fica enjoada. Puro instinto, assim como acontece com os animais, que são atraídos pelo cio da fêmea. Apesar de controversa, a função dos ferormônios é defendida por muitos cientistas, que inclusive responsabilizam a substância pelos casos de amor à primeira vista, através da produção de sensações prazerosas. Mas será que a paixão é mesmo tão científica e previsível assim?

Para as apaixonadas de plantão, essas explicações podem parecer uma fria análise do amor, mas há quem dê inclusive prazo de validade para a paixão. De 18 e 30 meses, tempo mais do que suficiente para um casal se conhecer. Parece terrível? Com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos, e toda a loucura da paixão desvanece gradualmente. E é aí que o dilema começa. Passado o êxtase, um relacionamento pode sobreviver à realidade e à rotina do dia-a-dia?

A paixão pode durar pouco porque não sobrevive diante das primeiras frustrações, que abalam o ilusório mundo encantado de quem está apaixonado. Daí, resultam decepções, inevitáveis atritos e um progressivo desgaste do casal. Por mais lindo e sadio que seja, o estado de paixão intenso vai sofrendo sucessivas transformações ao longo do tempo.

A paixão vai dando lugar a um companheirismo para os bons e os maus momentos da vida, e se desenvolve um maior respeito, tolerância e consideração pelas diferenças entre eles, só Freud explica.

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