domingo, 15 de novembro de 2009

A ARTE DE OUVIR ANTES DE FALAR

A ARTE DE OUVIR ANTES DE FALAR

Pilar Casagrande

Para falar bem não basta uma boca, pois tem gente que, não sabendo usá-la, tem feito um grande estrago com o que diz. Da mesma forma, não basta um par de olhos para saber ver bem, pois muitos olham, olham e não conseguem ver o que só poucos descobrem. E esses “poucos”, com suas descobertas, acabam inovando e revolucionando o mundo. A mesma coisa se dá com nossos ouvidos.

A questão é quão bem você ouve, pois ouvir é uma coisa, compreender o que se ouve é totalmente diferente. Saber ouvir leva tempo, prática, paciência e requer a capacidade de ficar quieto e deixar a outra pessoa falar por quanto tempo for necessário, mesmo quando naquele momento sua mente já esteja iniciando um raciocínio, ou uma contra-argumentação.

Ouvir bem significa que ouvimos com nosso corpo e coração, a ponto de sentirmos o que está sendo dito. Quando nós realmente ouvimos, criamos uma conexão entre nós e o outro; uma ligação invisível que nos conecta e nos permite entrar profundo na pessoa e melhor entender quem ela é e o que deseja, conhecemos seu interior.

O ato de ouvir é uma arte, algo fascinante e gratuito, mas infelizmente nos esquecemos disto com freqüência. Ouvimos pouco nossos filhos, nossos amigos e as pessoas com as quais convivemos diariamente.

Vivemos em uma comunidade que valoriza a informação; no entanto, temos sempre tão pouco tempo e disponibilidade para simplesmente ouvir o outro.

No silêncio das crianças há um programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência, que é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade. É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.

Ouvir é importante em primeiro lugar, porque o ato de ouvir carrega em si uma energia intensa, criativa e as pessoas às quais recorremos quando precisamos de ajuda são justamente aquelas que têm a disponibilidade para nos ouvir incondicionalmente, sem julgamentos ou interrupções. Em segundo lugar, porque ao contarmos um problema a um ouvinte atento, conseguimos muitas vezes achar algum tipo de resposta para nós mesmos.

Quando somos ouvidos, as idéias começam a brotar dentro de nós, inspirando-nos certa confiança e permitindo que desabrochemos como indivíduos. Se alguém ri de suas piadas, você se torna cada vez mais engraçado e motivado a continuar entretendo as pessoas. Este é o princípio do bom ouvinte, proporcionar uma troca de energia que nos reabastece para que não nos cansemos de ouvir o outro.

Qualquer um de nós pode ser um bom ouvinte, porque temos dentro de nós essa capacidade criativa de ouvir. Muitas vezes, porém, esta qualidade desaparece atrás de uma rotina cansativa, de muito trabalho e da necessidade absurda de "fazermos tudo ao mesmo tempo agora".

O resultado deste estresse diário é que passamos a perceber a vida a partir das bordas externas e não de nosso centro criativo, aquele que realmente dá sentido à nossa existência e nos faz continuar caminhando por vontade e não por obrigação.

É crescente o coro dos que acreditam que um amigo pode fazer a diferença no mundo. E a amizade ajuda não apenas a viver mais, como a viver melhor. Quanto mais amigos, mais chances de chegarmos à velhice sem problemas físicos e com maior capacidade de adaptação e aceitação das dificuldades inerentes ao envelhecer. Do contrário, pessoas que não têm amigos, são mais vulneráveis a doenças.

Assuma, hoje mesmo, um compromisso de ouvir melhor. Pratique ouvir o que os outros dizem, foque na outra pessoa, no que ela tem a dizer, não em você mesmo. Veja se você pode ouvir não só o que está sendo dito, mas também o que não está sendo dito. Sinta a conexão criada com a outra pessoa. Tornar-se um melhor ouvinte requer prática, entretanto você abrirá um novo e fascinante mundo de conhecimento. Ouvir nos ajuda a entender melhor os outros e a nós mesmos.

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