segunda-feira, 2 de novembro de 2009

COMO SE O FIM DO SONHO FOSSE UM ETERNO VAZIO

COMO SE O FIM DO SONHO FOSSE UM ETERNO VAZIO

Pilar Casagrande

É difícil explicar como alguém se torna essencial na pintura da sua existência, mas você sabe que o tecido que define sua posição no mundo seria incompleto sem essas pessoas. Você pode pensar nelas agora, porque são aquelas que parecem ter marcado encontro com você antes mesmo do nascimento. Ainda que seja apenas uma impressão, é um sentimento que as destaca do mundo. Talvez sejam filhos, talvez sejam pais. Talvez um amor. Talvez alguém improvável. São pessoas muito especiais, e você quer que continuem a ser especiais, trate-as como pessoas muito especiais. Mantenha sua palavra para com elas. Nas menores promessas, dita e não ditas. Drible o mundo para estar com elas. Nos dias de sol. Nos dias de chuva. Não minta para elas são parte de você.

Mas, se chegar o dia em que tudo acabou, não terminou, mas substituiu-se o sentimento; o carinho foi trocado pelo silêncio, a atenção trocada por cobranças, o respeito trocado por críticas incisivas, a admiração trocada pela indiferença, o entendimento trocado pelo incômodo, o amor trocado pela exigência, o desejo trocado pela formalidade.

Se um dia aquela coisa que já foi bela se acabar, tornando-se um imenso vazio que aplaca nossos corações, momentos em que as longas e divertidas conversas dão lugar às nervosas discussões sem propósito e nem solução. Acabamos por consumir mais tempo nos explicando de nossos atos do que agindo devidamente, e o que era feito com gosto e carinho torna-se uma tórrida e infeliz obrigação que nos prende e nos sufoca, tolhendo nossos sentimentos e destruindo nossos desejos mais íntimos.

Aí, deixamos de olhar quem está conosco e, descaradamente nós fechamos nossos olhos e nos entregamos aos sonhos e devaneios, imaginando estar com quem nos deseje na medida de nossa capacidade de desejar e nos entregar a quem sentimos que mereça nossos mais sinceros sentimentos.

Nos acomodamos em muitas vezes no que está mais fácil e mais simples. Muitos de nós deixamos as coisas como estão, em muitas vezes entregando-nos à decepção e à depressão. Deixamos de viver, embriagados nesse sentimento que temos de estar tolhidos de esperanças, como se o fim do sonho fosse um eterno vazio...

Nem sempre temos energia ou coragem suficientes para dar um basta no que nos incomoda e perturba, nem sempre temos energia suficiente para ir a busca do que nos agrada, e quase sempre adiamos uma coisa certa, e na maioria das vezes não conseguimos aceitar o que já passou.

A medida dessas dores será sempre indiretamente proporcional à nossa capacidade de superação, pois nunca conseguimos reconhecer o momento certo de dizer: -Basta! Adeus, não dá mais...

Nem sempre essa opção está entre nossas alternativas, então sofremos em inúmeras e sucessivas tentativas de recomeçar do zero, na ilusão de que será tudo diferente, nos enganamos comodamente pela opção do mais simples e acessível, porque nem sempre nos sentimos capazes e felizes o suficiente para ter segurança de encarar a própria solidão; inexorável, que nos espera adiante.

Preferimos estar garantidos a qualquer custo, do que a solidão de encarar os próprios sentimentos e buscar sermos nós mesmos.

São coisas tão simples que deixamos perdidas no início da relação onde ambos poucos se conheciam e procuravam mostrar sempre o melhor de si, mas o "amor" e a convivência serviram para provar o grande engodo em que se envolveram.

Nem sempre a percepção de ambos é suficiente para avaliar o nível de insanidade em que se tornou o ambiente íntimo, e partem dum nível de discussão e divergências para o âmbito da batalha física, agredindo e ferindo fisicamente, e até tirando a vida em casos mais extremos.

Nunca sabemos o momento certo de declarar um basta, mas depois de conseguirmos essa vitória, sempre temos o sentimento de que demorou demais. Buscamos alguém que nos faça sorrir e não mais um que nos obrigue a chorar.

A solidão ainda é melhor do que estar mal acompanhado, mas nem sempre entendemos essas coisas.

Só há dois modos de aprendemos nessa vida: pela dor ou pela conscientização!

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