domingo, 15 de novembro de 2009

A ARTE TEM SIDO PODEROSA ALIADA NA RECONSTRUÇÃO SOCIAL

A ARTE TEM SIDO PODEROSA ALIADA NA RECONSTRUÇÃO SOCIAL

Pilar Casagrande

A vida humana torna-se cada vez mais complexa e mecanizada, dividida e subdividida em classes e interesses. Tornando-se independente da vida dos outros homens, esquece-se daquilo que completa e une os seres humanos: o espírito coletivo.

A arte é a estrada que abre caminho para a chegada de novos valores políticos e morais. E também o mais importante veículo de afirmação cultural de um povo.

A fé, o amor e a paz são os anseios vitais do homem, mas enquanto se vê capaz de dominar a ciência e a tecnologia, afasta-se sempre mais do seu semelhante, sentindo-se-lhe escassearem as mais simples condições de vida. Desde o início dos tempos, lutando contra a complexidade e a mecanização humana está a Arte, elemento da vida espiritual de todos os povos, em todas as épocas. Configurando-se como a atividade que exprime cultura, sensibilidade e tradição, condicionada pelo seu tempo e representando a humanidade segundo idéias e aspirações, necessidades e esperanças, a Arte permite às comunidades explodirem seu poder criativo em várias manifestações.

No Modernismo, falava-se em arte na educação para o desenvolvimento da sensibilidade, mas poucos tentaram conceituar esta sensibilidade, deixando-se dominar pelo sentimentalismo. Hoje, principalmente, se aspira influir positivamente no desenvolvimento cultural e cognitivo dos estudantes por meio do ensino/aprendizagem da arte. Não podemos entender a cultura de um país sem conhecer sua produção artística. A arte, como uma linguagem aguça os sentidos, transmite significados que não podem ser veiculados por nenhuma outra linguagem, como a discursiva ou a científica. Dentre os gêneros artísticos, os visuais, tendo a imagem como matéria-prima, tornam possíveis também à visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos.

As periferias são áreas desguarnecidas de monumentos e de qualquer outro tipo de interferências artísticas, nunca pensadas para as regiões suburbanas desconectadas de ações culturais (palestras, oficinas, workshops, shows, concertos, bibliotecas e museus) que dirimam, um pouco, o sofrimento destas áreas, tão sacrificadas pela falta de planejamento urbano. Isso é no mínimo curioso, porque cada vez que se fala em sociedade e em comunidade, se exclui, relegando-os aos subúrbios periféricos, justamente os que, além de constituir a parte numericamente maior da população são os protagonistas mais diretos da chamada função urbana.

Foram obtidos sucessos na ação com os excluídos, esquecidos ou desprivilegiados da sociedade trabalhando com arte e até ensinando às escolas formais a lição da arte como caminho para recuperar o que há de humano no ser humano.

Entretanto, precisamos ter muito cuidado com trabalhos de artistas que apenas exploram os pobres, fazendo-os trabalhar de graça em projetos totalmente definidos e controlados pelos próprios artistas.

Muitas vezes, apesar das boas intenções, porque não sabem lidar com a comunidade ou com aprendizagem de arte, acrescentam mais um nível de exploração aos já tão explorados. É necessário conhecer e analisar o processo de trabalho de artistas em comunidade para avaliar e julgar com sua propriedade.

Lidar com excluídos, levando-os a se verem como pessoas, apesar da exclusão, não é tarefa fácil, pois qualquer deslize potencializa a exclusão. Mas, apesar de algumas vezes submetido a certo marketing sanguessuga, o movimento de arte para a reconstrução social vem demonstrando a necessidade da arte para todos os seres humanos, por mais inumanas que tenham sido as condições que a vida lhes impôs.

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