sábado, 14 de novembro de 2009

APRENDENDO A ACEITAR AS PESSOAS

APRENDENDO A ACEITAR AS PESSOAS

Pilar Casagrande

Estou aprendendo a aceitar as pessoas, mesmo quando elas me desapontam. Quando fogem do ideal que tenho para elas, quando me ferem com palavras ásperas ou ações impensadas. É difícil aceitar as pessoas assim como elas são, não como eu desejo que elas sejam. É difícil, muito difícil, mas estou aprendendo. Estou aprendendo a amar, estou aprendendo a escutar, escutar com os olhos e ouvidos, escutar com a alma e com todos os sentidos.

Escutar o que diz o coração, o que dizem os ombros caídos, os olhos, as mãos irrequietas. Escutar a mensagem que se esconde entre as palavras corriqueiras, superficiais; descobrir a angústia disfarçada, a insegurança mascarada, a solidão encoberta. Penetrar o sorriso fingido, a alegria simulada, a vangloria exagerada. Descobrir a dor de cada coração. Aos poucos, estou aprendendo a amar. Estou aprendendo a perdoar. Pois o amor perdoa, lança fora mágoas, e apaga as cicatrizes que a incompreensão e insensibilidade gravaram no coração ferido.

O amor não alimenta mágoas com pensamentos dolorosos, não cultiva ofensas com lástimas e autocomiseração. O amor perdoa e esquece, extingue todos os traços de dor no coração. Passo a passo estou aprendendo a perdoar, a amar. Estou aprendendo a descobrir o valor que se encontra dentro de cada vida, de todas as vidas. Valor soterrado pela rejeição, pela falta de compreensão, carinho e aceitação, pelas experiências vividas ao longo dos anos.

Estou aprendendo a ver nas pessoas a sua alma e as possibilidades que Deus lhes deu. Estou aprendendo, mas como é lenta a aprendizagem, como é difícil amar. Todavia, tropeçando, errando, estou aprendendo.Aprendendo a pôr de lado as minhas próprias dores, meus interesses, minha ambição, meu orgulho quando estes impedem o bem-estar e a felicidade de alguém. Como é duro amar. Eu estou aprendendo. E você? Sabe amar?

Perdoar e esquecer a ofensa que te colheu de surpresa, quase dilacerando a tua paz. Afinal, o teu opositor não desejou ferir-te realmente, e, se o fez com essa intenção, perdoa ainda, perdoa-o com maior dose de compaixão e amor. Ele deve estar enfermo, credor, portanto, da misericórdia do perdão. Ante a tua aflição, talvez ele sorria. A insanidade se apresenta em face múltipla e uma delas é a impiedade, outra o sarcasmo, podendo revestir-se de aspectos muito diversos. Se ele agiu, cruciado pela ira, sacando as armas da calúnia e da agressão, foi vitimado por cilada infeliz da qual poderá sair desequilibrado ou comprometido organicamente. Possivelmente, não irá perceber esse problema, senão mais tarde. Quando te ofendeu deliberadamente, conduzindo o teu nome e o teu caráter ao descrédito, em verdade se desacreditou ele mesmo.

Continuas o que és e não o que ele disse a teu respeito. Conquanto justifique manter a animosidade contra tua pessoa, evitando a reaproximação, alimenta miasmas que lhe fazem mal e se abebera da alienação com indisfarçável presunção. Perdoa, portanto, seja o que for e a quem for.

O perdão beneficia aquele que perdoa, por propiciar-lhe paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental. Felizes são os que possuem a fortuna do perdão para a distender largamente, sem parcimônia.

O perdoado é alguém em débito; o que perdoou é espírito em lucro. Se tu revidas o mal és igual ao ofensor; se tu perdoas, estás em melhor condição; mas se perdoas e amas aquele que te maltratou, avanças em marcha invejável pela rota do bem. Todo agressor sofre em si mesmo, é um espírito envenenado, espargindo o tóxico que o vitima, não desças a ele senão para o ajudar. Há tanto tempo não experimentavas aflição ou problema, graças à fé clara e nobre que aflora em tua alma, que te desacostumaste ao convívio do sofrimento. Por isso, estás considerando em demasia o petardo com que te atingiram, valorizando a ferida que podes de imediato cicatrizar. Pelo que se passa contigo, medita e compreenderás o que ocorre com ele, o teu ofensor. O que te é inusitado, nele é habitual. Se não te permitires à ira ou a rebeldia, perdoarás!

A mão que, em afagando a tua, crava nela espinhos que carrega, está ferida ou se ferirá simultaneamente. Não retribua a atitude, usando estiletes de violência para não aprofundares as lacerações. O regato singelo, que tem o curso impedido por calhaus e os não pode afastar, contorna-os, a fim de ultrapassá-los e seguir adiante.

A natureza violentada pela tormenta responde ao ultraje reverdecendo tudo e logo multiplicando flores e grãos. E o pântano infeliz, na sua desolação, quando se adorna de luar, parece receber o perdão da paisagem e a benéfica esperança da oportunidade de ser drenado brevemente, transformando-se em jardim.

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