sábado, 14 de novembro de 2009

A LIBERDADE É O MELHOR AMOR QUE PODEMOS OFERECER

A LIBERDADE É O MELHOR AMOR QUE PODEMOS OFERECER

Pilar Casagrande

Um pássaro livre voa para onde quiser, migra nas épocas de frio para lugares mais quentes, canta com toda sua energia, bate suas asas com vontade, alimenta-se do que a natureza lhe oferece, corteja as fêmeas de sua espécie. Ele possui um brilho próprio que atrai e encanta a todos e de tão atraente acaba sendo vítima de alguém que se apodera de sua vida, para ter o brilho desse pássaro apenas para si.

Confinado numa gaiola, restrito de movimento, distante das companhias com quem se contenta, tolhido de voar com toda sua energia, perde o colorido de suas penas, o bailado de seu movimento, resigna-se em um território mínimo de subsistência, alimenta-se não do que lhe agrada, mas do que lhe dão, seu olhar torna-se mórbido, e come apenas porque a necessidade de sobrevivência o impele; seu canto é tão somente um canto de lamento de quem espera o dia de sua morte.

Nós somos como os pássaros, cada um de nós tem seu brilho próprio, sua energia, seus desejos e anseios; e também temos nossos projetos pessoais, nossas aptidões e nossa vocação. Brilhamos e realizamos em nossas vidas com toda a nossa emoção, nossa energia, nossa habilidade para criar e transformar nossa vida e nosso mundo.Temos nossos atrativos que encantam as pessoas que convivem conosco e aquelas que chegam até nós. Até que um dia, somos seduzidos por alguém que nos chega, e nos entregamos para esse alguém...

Saber desfrutar do canto do pássaro liberto em seu habitat, vivenciando sua potencialidade; é ser sábio com a natureza. Entender que somos parte da natureza, sem ser mesquinho a ponto de querer apoderar-se dessa vida tão radiosa e restringi-la de suas aptidões é um princípio básico de respeito à vida.

Do mesmo modo que, nossas habilidades e tendências encantam e atraem, poucos são os sábios que conseguem desfrutar de "nossa" natureza sem desejar colocar-nos numa gaiola. Quando estamos sozinhos, somos como pássaros libertos; brilhamos, vivemos, nos deslocamos aos locais que nos agradam, dizemos e fazemos o que nosso desejo nos atrai. Emanamos nossas potencialidades da melhor forma porque estamos em liberdade de ação, até o dia em que deixamos de estar sós, quando não fazemos mais o que simplesmente desejamos.

Entretanto, somos excessivamente exigidos de atitudes que não queremos tomar, somos tolhidos dos lugares e das companhias que nos agradam, alimentamo-nos somente do que nos é oferecido, restringimos nossas aptidões para adequarmos ao "viveiro" aonde fomos colocados com o nosso tolo consentimento e deixamos de "voar" porque perdemos nossa vontade, deixamos de cantar com intensidade dando lugar ao canto do lamento de quem deixou de viver.

Assim como as penas dos pássaros perdem seu brilho, também perdemos o brilho de nosso olhar, nossa face envelhece e torna-se taciturna e febril, perdemos aquela essência que nos fez atrair o nosso algoz. Nos deprimimos, tornamo-nos rebeldes contra os que nos restringiram, emanamos em cada um de nossos gestos, a nossa revolta acumulada, pela tão cruel mutilação que sofremos de nossos sentimentos. Viramos despojos do que um dia fomos, acabamos com nossa essência e destruímos nossa própria vida desejando por um fim rápido ao nosso sofrimento.

Somos atraentes enquanto estamos sós, mas basta arrumarmos uma companhia; e esta já nos chega com determinações e regras, de como devemos agir e fazer para continuar "vivendo". Essas excessivas cobranças restringem completamente os sentimentos que um dia tivemos por ela, só entramos nessa mórbida gaiola se permitirmos, e só guarda seu amor numa gaiola, quem é egoísta e incapaz de entender que o princípio da natureza de cada ser, consiste em permitir que ela viva sua vida da sua maneira, e não da maneira que desejamos que ela viva.

A natureza é sábia, e nenhum ser humano tem capacidade de querer controlá-la. Qualquer tentativa do homem, de querer ter controle sobre algo além de sua capacidade de compreensão, só pode levar inexoravelmente à morte.

O melhor amor que podemos oferecer é a liberdade da outra pessoa ser do jeito que é, com todas as suas virtudes e defeitos, pois só ama quem aceita.

O amor é harmonia entre os seres, e nunca uma coação contra sua essência. Amar é libertar, somar, colaborar, incentivar, agradar. Já temos gente demais em nossas vidas para nos exigir; precisamos apenas, de alguém para amar...

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