domingo, 15 de novembro de 2009

FENÔMENO DENOMINADO ADULTESCÊNCIA

FENÔMENO DENOMINADO ADULTESCÊNCIA

Pilar Casagrande

Hoje, a maioria das pessoas desse mundo é jovem. Trata-se não da juventude do corpo, mas sim de estado de espírito e, conseqüentemente, de comportamento. Basta olharmos ao redor para acharmos cinqüentões freqüentando academias; mães compartilhando roupas com as filhas adolescentes; avós esportistas; coroas com tatuagens espalhadas pelo corpo, indo para baladas; e um monte de gente com cerca de 30 anos, já formada, que ainda mora com os pais. Esses exemplos são evidências de que a linha que divide a adolescência da fase adulta está cada vez mais tênue. Essa tendência, que vem sendo bastante analisada e discutida por estudiosos, já foi batizada com o nome de adultescência. Alguns a vêem com olhos preocupados, alegando que os adultescentes são pessoas com dificuldade de aceitar que a juventude já se foi. Por outro lado, outros acreditam que manter uma essência adolescente não só é benéfico como essencial para viver em bem-estar e se adaptar às mudanças que ocorrem com tanta rapidez na sociedade pós-moderna.

Não é à toa que hoje conseguimos, sem grandes dificuldades, identificar adultos que, em muitos momentos, se comportam tal como adolescentes e jovens. É sinal de que mudanças significativas ocorreram na sociedade, de uns tempos para cá. É cada vez mais tardia a independência econômica, o que faz com que muitos jovens adultos permaneçam dependentes dos pais, principalmente nas classes sociais mais elevadas.

O mercado acirrado e as constantes inovações a que os profissionais precisam se adaptar contribui para que os adultos demorem a construir uma família. Talvez por estarmos passando para um modelo social onde o Estado adota cada vez mais funções que antes eram responsabilidades do cidadão. O âmbito de decisão de um adulto está cada vez mais limitado pelo Estado, que de algum modo se transforma em pai dos cidadãos. Mesmo quem já viveu a entrada no mercado de trabalho há tempos não escapa de se comportar como um jovem adolescente. Hoje em dia, não tem idade limite para se divertir, fazer esportes, namorar e até chutar o balde, de vez em quando.

Apesar de admitir que a maturidade adquirida ao longo dos anos me proporcionou muita paz, acho que ter um quê de adolescente é essencial. Depois que nos tornamos adulto e enfrentamos as dificuldades da vida para sobreviver e criar os filhos, não tem jeito, a gente muda. E quem não souber lidar com isso acaba se tornando rabugento ou triste. Eu gosto de estar ao lado de gente light, alegre, feliz, descontraída e espontânea.

Como tudo nessa vida, a tendência do adulto de se comportar como adolescente tem lados positivos e negativos. Como jovens são sempre mais flexíveis quanto a idéias, acho que é positivo que as pessoas não se acomodem e procurem cuidar mais da saúde nessa luta contra o envelhecimento. Por outro lado, não assumir responsabilidades e não aceitar o passar dos anos é algo negativo. Isso ocorre com mais freqüência.

Infelizmente, a nossa cultura valoriza em demasia a juventude e o envelhecer está associado a idéias extremamente negativas, como doença, pobreza, falta de flexibilidade, etc. Se valorizássemos a experiência e a maturidade emocional que são frutos da vivência, não teríamos tanto medo de envelhecer.

Saber dosar o espírito adolescente com os princípios da vida adulta, sem deixar a balança pesar nem pra um lado nem pra outro, é, provavelmente, o grande segredo. Para um adulto, o maior atrativo da adolescência talvez seja esse fugir das responsabilidades. Ser adulto significa planejar, calcular, trabalhar. Só que os planos nem sempre dão certo. Às vezes, os grandes projetos trazem grandes decepções, ou até mesmo quando tudo sai conforme o planejado, a vida parece não ter todo aquele sentido que acreditávamos que teria. E a rotina de trabalho é sufocante. Então há a tentação de voltar para a adolescência, desfrutar do instante presente, buscar novas experiências, experimentar a excitação do momento, sem se preocupar com mais nada. Mas, a dificuldade está em poder ser adulto e, ao mesmo tempo, adolescente sem que isso signifique uma fuga das responsabilidades com a família, com o trabalho e com a sociedade.

Parece que, na verdade, o grande segredo não é saber quais e quantos compromissos jogar para o alto. Mas sim, ser um adulto completo, capaz de cumprir com todas as suas obrigações, mas vivenciando-as de uma forma diferente, enfrentando as responsabilidades com flexibilidade.

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