sábado, 14 de novembro de 2009

O PRIVILÉGIO DE SER IDOSO

O PRIVILÉGIO DE SER IDOSO

Pilar Casagrande

O segmento da população que atinge sessenta anos ou mais, está atualmente ocupando um espaço muito importante em nossa sociedade. Como está ocorrendo em todo mundo ocidental, o aumento da população de Idosos é uma realidade. Em nosso país a preocupação com este fato surge em diversos setores.

Um novo tempo, uma nova forma de pensar, interagir, atuar e projetar-se ao mundo: é a época conhecida como Terceira Idade, o "tempo da última estação" a ser vivida, a fase em que se teria a capacidade de ser uma pessoa completa, a etapa da integração de todos os aspectos do ser, que foram vivenciados aos poucos. A pessoa abre-se para doar-se às próximas gerações.

Em outras culturas, como na do Oriente, o Idoso em geral assume posição privilegiada na sociedade onde vive. Ter atingido determinada idade, independentemente de posição social, cargo ou cultura, significa ser alçado a um patamar mais elevado, de honra e respeito.

Em países de primeiro mundo, com salários dignos e uma sociedade mais desenvolvida, pode o Idoso, após sua aposentadoria, desfrutar das boas coisas da vida, viajar, descansar etc, visto que ganha dignamente para tal e possui perfeita cobertura da seguridade social.

Enquanto isso, no Brasil, o próprio conceito de ser Idoso é bem diferente. Para o mercado de trabalho, uma pessoa que passou dos 40 anos já é considerada velha. Não se abrem mais portas, não se dão mais oportunidades. Aqueles que já atingiram a chamada terceira idade, então, são vistos como problema ou estorvo. Nem mesmo dentro da própria família são aceitos ou respeitados. São cidadãos (se ainda podem assim ser chamados) de categoria inferior. São aceitos, e com muita reserva, porque, na maioria das vezes, sustenta filhos e netos desempregados ou desocupados com suas pensões, via de regra um salário mínimo nacional.

É gente que, quando chega, ao período em que se poderia colher os frutos de uma vida de luta, não há nada a colher. Resta aguardar que a máquina debilitada pare de funcionar, e sofrer com as seqüelas decorrentes da vida difícil e da própria idade.

E ainda é preciso enfrentar a dita Seguridade Social (INSS, para os íntimos). É preciso, quase sempre, para se obter um benefício, recorrer a despachantes e advogados, devido à imensa burocracia. É preciso pagar para que alguém garanta lugar nas filas quando se necessita de uma consulta. É preciso rezar para que o benefício, bem como a assistência médica, cheguem antes da morte.

Ou seja, para ser Idoso no Brasil, é preciso, mais do que tudo, ter sorte. Sorte para ter uma vida razoável, saúde em dia, um bom emprego que garanta aposentadoria decente, família cheia de amor e carinho. Sorte para ter condições de acesso a um plano de seguridade privada, com assistência médica integral, como no primeiro mundo. Sorte para não depender do INSS, do SUS, dos benefícios sociais do Governo e da caridade das pessoas. Principalmente, é preciso sorte para enfrentar os burocratas, que não acreditam na existência de alguns milhares de brasileiros com mais de 90 anos. São pessoas que subvertem a própria lei, que considera qualquer pessoa inocente até que se prove sua culpa. Para eles, todos são culpados até que provem sua inocência. Lembro a estes e outros que desrespeitam a velhice: um dia, talvez vocês cheguem lá, e sentirão na carne o que é ser Idoso. Não dependerão, por certo, de benefícios sociais, mas sentirão o peso das conseqüências da idade. Ser Idoso é o amanhã natural de todo ser humano.E só existe um modo de não chegar a isso. E esse modo é morrer antes de envelhecer.

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