domingo, 15 de novembro de 2009

E SE O SILÊNCIO FOR A MELHOR FORMA DE ESQUECIMENTO?

E SE O SILÊNCIO FOR A MELHOR FORMA DE ESQUECIMENTO?

Pilar Casagrande

As palavras ainda me saem dos dedos com o tremor de quem foi apanhado de surpresa e não teve tempo sequer para pensar em probabilidades. Entraste sem bater e quase sem que eu notasse, sem sequer fazer esforço me desenhaste um sorriso no rosto que teimava em crescer cada vez que o meu olhar te encontrava e foi com a simplicidade das coisas comuns que tornaste os meus dias mais curtos. Não me deixaste espaço para decidir, mesmo sem tentares as horas passaram a ser tuas, as noites também e eu não tive oportunidade para escolher. Tu foste o anjo que me colocou de pé quando as minhas asas se esqueceram de que podiam voar, mostraste-me que o futuro podia ser agora, não me destes outra hipótese e eu não lutei contra as constantes aparições do teu rosto no meu pensamento.

Ainda procuro as palavras certas, ainda não houve tempo para passar a tua luz para o papel, mas posso dizer-te que brilhavas como nunca tinha visto ninguém brilhar, que era impossível não sorrir perante a força do teu sorriso contra o azul do céu no fundo. Era inevitável a força que transmitias com um olhar quase tão simples como tu, foi-me inevitável seguir os teus passos sem que tivesses de me dizer uma palavra. Ainda procuro as palavras certas, o que dizer de alguém que sempre que via era como se fosse a primeira vez, de alguém que me levou a voar sem asas, que me ensinou algo diferente a cada dia, que me fez voltar a sonhar, que era tão simples, mas ao mesmo tempo tão pouco comum, que pedia tão pouco, mas tinha sempre tanto para dar.

Não posso dizer-te mais, apenas que me completavas, deste-me um novo sentido da realidade e me mostraste um lado da vida que desconhecia, apenas posso dizer-te que cada dia contigo era uma lição aprendida e um sonho tornado realidade. Deste a volta por cima às certezas que eu tinha e, que ainda tento perceber como foi que entraste em minha vida, tão depressa, sem pedir licença nem esperar que eu deixasse, fizeste-me dar o braço a torcer e talvez te tenha mesmo convidado a entrar...

Consumiste o tempo que te entreguei em mãos como se fosse teu. A tua sede de amar, os momentos, os laços cortados com a pressa de uma palavra rasgada ao vento. Então, quis ver-me livre de ti assim que me foi possível. E se alguma vez disse que te amava, hoje te digo que o amor não tem de ser eterno, que nós é que nos iludimos, digo-te que há outro sorriso no lugar do teu e que, afinal, eu não precisava de ti... É dura a escolha que fazemos do destino, eu escolhi nunca mais te querer a meu lado, pois vezes demais a vida me doeu por tua causa. E se, por vezes, me fizeste sorrir e o teu riso ainda ecoa na distância do caminho, foram muitas às vezes em que escondi de ti as lágrimas que desfiava ao luar. Então eu desisti, como se desiste de um jogo antes de se perder, larguei a tua mão, com o pouco que me restava, e fiz o meu caminho, mesmo sem saber em que esquinas virar, pois qualquer rua é melhor do que a estrada que percorri contigo. E porque já não me és quase nada senão pena, o teu rosto longe de mim como nunca, já não me serves de sol nos dias de chuva, nem de abraço nas noites frias. Eu já não preciso de ti como sempre pensei que precisava, afinal não eras tudo...

Angustia-me a pressa dos dias com que te apago do coração. A pontaria das palavras, o tiro certeiro com que as soltavas, uma a uma, nas minhas mãos, a destreza com que me desfiz de tudo o que era teu. Eu não vou voltar atrás, pois aprendi a andar sem que me leves pela mão.

A chuva já não me traz restos de nós e eu sei que o meu tempo, agora, é todo meu. O tempo passa e, embora não cure tudo, secou as lágrimas que nunca caíram a seu devido tempo. Foi tudo tão urgente que o tempo passou por nós e só ficaram as lições, e eu aprendi que não se toca o céu com os pés ainda no chão. Se o tempo tem vantagens, as lições são uma delas, mesmo decoradas à força nas noites em que o vento se arrasta por um passado que durou tempo demais ou por um futuro que nunca chega como esperado...

Se o tempo tem vantagens, as lições são uma delas, mesmo decoradas à força nas noites em que o vento se arrasta por um passado que durou tempo demais, por um futuro que nunca chega como esperado... Eu aprendi que não se toca o céu com os pés ainda no chão!

Sorriste demais e vezes demais eu te pensei indispensável, mas indispensável é sonhar, indispensável é sorrir quando nada mais nos resta, é pensar no céu e ver sempre uma estrela; indispensável é fechar os olhos à noite com a tranqüilidade de uma lembrança e perceber que o tempo não dá tempo de esperar por ninguém...Urgente é sonhar o tempo todo sem que ninguém nos interrompa a paz que um sonho demora a construir...

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