segunda-feira, 2 de novembro de 2009

NÃO SE VIVE, SOFRE-SE UM GRANDE AMOR!

NÃO SE VIVE, SOFRE-SE UM GRANDE AMOR!

Pilar Casagrande

Ainda hoje acordas pelas madrugadas e olhas a Lua. Ela te lembra do teu grande amor e da falta que ele te faz. Sentes tristeza pelo fim, mas não arrependimento. Tinha de acontecer. Mas, a presença dele está contigo e não vai te deixar. Será sempre teu grande amor, único e inesquecível.

Não há gesto tão profundamente humano quanto uma despedida. É aquele momento em que renunciamos não apenas à pessoa amada, mas a nós mesmos, ao mundo, ao universo inteiro.

O amor relativiza; a renúncia absolutiza. E não há sentimento mais absoluto do que a solidão em que somos lançados após o derradeiro abraço, o último e desesperado entrelaçar de mãos.

Arrisco mesmo a dizer: só os amores verdadeiros se acabam. Os que sobrevivem, incrustados no hábito de se amar, podem durar uma vida inteira e podem até ser chamados de amor, mas nunca foram ou serão amores verdadeiros. Falta-lhes exatamente o dom da finitude, abrupta e intempestiva. Qualidade só encontrável nos amores que infundem medo e temor de destruição.

Sofre-se a ansiedade de não poder retê-lo, porque nossas cordas afetivas são muito frágeis para mantê-lo retido e domesticado como um animal de estimação. Ele é xucro e bravio e nos despedaça a cada embate, e por fim se extingue e nos extingue com ele.

Aponta numa única direção: o rompimento. Pois só conseguiremos suportá-lo se ocultarmos de nossos sentidos o objeto dessa desvairada paixão. Mas não se pense que esse é um gesto de covardia. O grande amor exige isso!

O rompimento é sua parte complementar. Uma maneira astuciosa de suspender a tragédia, ditada pelo instinto de sobrevivência de cada um dos amantes. Morrer um pouco para se continuar vivendo. E poder usufruir daquele momento mágico, embebido de ternura, em que a voz falseia, as mãos se abandonam e cada qual vê o outro se afastar como se através de uma cortina líquida ou de um vitral embaçado.

Há todo um imaginário sobre os adeuses e as separações, construído pela literatura e pelo cinema. O cenário pode ser uma estação de trem, um aeroporto (relembre Casablanca), um entroncamento rodoviário. Pode ser uma praça ou uma praia deserta. Falésias ou ruínas de uma cidade perdida. Pode estar garoando ou nevando, mas vento é imprescindível.

As nuvens devem revolutear no horizonte, como a sugerir a volubilidade do destino. Os cabelos da amada, longos e escuros, fustigam de leve seus lábios entreabertos. Há sutis crispações, um discreto arfar de seios. E os olhos, os olhos...

A visão é o último e o mais frágil dos sentidos que ainda nos une ao que acabamos de perder. Uma grande dor, uma solidão cósmica, um imenso sentimento de desterro.

Que se curam algum tempo depois com um amor vulgar, desses feitos para durar uma vida inteira...

O grande amor não pede para ficar em tua vida para sempre, ele simplesmente fica na tua vida. Ele entra em tua vida e toma posse dela.

Pode ficar guardado e escondido em algum lugar de tua mente. Mas, quando menos esperas, algo faz a lembrança voltar, e a saudade toca em teu ombro e diz: “Sim, tiveste um grande amor, e ainda o tem, porque ele nunca mais saíra de tua vida. Ele é parte de tua vida”.

Um grande amor tem um nome. Todo grande amor tem um nome.

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