O PENSAMENTO DAS MÃES
Pilar Casagrande
O pensamento das mães está espalhado pelo mundo. Noite e dia sem descanso vagando nas águas várias, voando longe entre as nuvens, descendo ao fundo das minas. Mãe é a teia de prender amores, é a rede de embalar cuidados.
O pensamento das mães está estudando nos colégios, mergulhado nas piscinas, nos campos de jogos, parado pelas esquinas, bebendo no botequim. Velando nos hospitais, chorando nos prostíbulos, preso à grade das prisões. Está em cima das árvores e no meio das ruas. Nas forjas e nos serrotes, na trena e no bisturi.
Também encontramos o pensamento das mães junto à pesquisa dos sábios. Sobre a mesa dos governantes, das escritoras, das doutoras, das artistas, das professoras e dos poetas.
O pensamento das mães está com todas as pessoas, pulsando em todas as horas, enchendo qualquer espaço. Está na vida chegando, está na vida vivendo, está da vida partindo.
O pensamento das mães é espontâneo e sempre rico em ternura. Ela entra nos quartos devagarinho, cobre com gesto tão leve, beija com boca tão doce. Afaga, canta, suspira e reza.
Ah! Que preces, que suspiros, no pensamento das mães! Que mundo tão diferente, de tanta sabedoria!
O tempo das mães é tempo parado. Não há velhos, não há moços, para ela são todos ainda meninos. Deusa do bem, do pranto e da tristeza, em cujos lábios meu presente canta, em cujos olhos meu futuro reza.
Assim, são os pensamentos de todas aquelas que foram escolhidas para dar a vida, mulheres de todas as espécies de todos os credos, raças e nacionalidades .Todas aquelas nas quais a vida está envolvida em sorrisos, lágrimas, tristezas e felicidades. Aquelas que sofrem por filhos que geraram e perderam. As que trabalham o dia inteiro em casa ou em qualquer emprego.
Mães que penam por seus filhos doentes. Mães meninas carentes adolescentes inexperientes ou velhinhas esquecidas em asilos sem abrigo, sem família, carinho e amigos. Também são mães aquelas mulheres enfermas que em algum hospital aguardam pela sua hora fatal, as mulheres guerreiras da vida inteira, as que não têm como dar a seus filhos o pão e a educação, as mães deficientes, as inconseqüentes, as condenadas, aquelas que vivem enclausuradas, as que foram obrigadas a crescer antes do tempo e vivem mendigando nas ruas e sobrevivem apesar dessa tortura.
Ser mãe é sempre estar cansada de nunca ficar parada, de ter sempre o que fazer, engolir quase inteiro, não demorar no banheiro e se aprontar sem se ver. É acordar de madrugada, e não dormir quase nada se um filho adoecer. De novo ler historinhas, os contos da carochinha, para o filho adormecer.
Inventar pratos "mil", se um filho inventar de não comer. É estudar outra vez todo o curso que já fez, para o filho aprender. Outra vez brincar de "roda", e estar por dentro da moda quando a filhinha crescer.
Ouvir músicas "chatas" e esquecer as serenatas, que só lhe davam prazer. Curtir uma quadrilha quando então é sua filha quem vai dançar para valer.
Ser mãe é virar uma semente para viver novamente quando um filhinho nascer.
Uma criança é carregada no útero da mãe por nove meses, mas será carregada no coração e no pensamento da mãe eternamente.
Mãe, ó doce mãe, o teu pranto nunca finda, não finda o teu amor profundo. Sofre, sofreste e sofrerás ainda enquanto houver um filho teu no mundo!
sábado, 14 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário